sábado, 4 de abril de 2015

Conto: Fim de caso em Paris


Fim de caso em Paris.
Niaze Azevedo

Antes que lhe esfriasse de todo a alma. Antes que se visse de novo completamente nua de sentimentos, precisava vê-lo. Marcou o encontro e se esmerou na toalete.

Entregou-se a partir desse momento às lembranças que lhe faziam doer o estômago. As lágrimas detidas, como sempre.

Foram felizes por quase três anos em Paris. Muito felizes, como negar? E desde que se conheceram até sua partida, não houve sequer um dia, em que não dormissem abraçados. Suas noites eram sublimes.

Enveredou-se pelas vielas iluminadas da cidade à procura do Hotel onde ele morava desde que a deixara. Conhecia o local. Houve um dia em que se demorou na calçada esperando que ele saísse para segui-lo e descobrir se havia outra mulher em sua vida. Ele não desceu. Voltou para casa contente e resfriada.

Tinha uma teoria. Quando um homem deixava uma mulher, havia outra a espera. Homem não conseguia viver sozinho. Não conseguiu descobrir a outra. A dúvida a consumia.

Lembrou-se do dia em que chegara em casa e encontrou o bilhete de despedida. Ele dizia que precisava sair para conhecer um pouco a vida. Correu ao seu Ateliê, estava tão vazio, quanto sua vida antes de sua chegada. Tudo voltaria a ser como antes. Sem sua companhia, seus abraços fortes, as gargalhadas loucas e sua eterna juventude.

Chegou ao Hotel, sequer percebera o trajeto. Ele a esperava. Suas roupas contrastavam com a higiene do local, estava sujo e malcheiroso. As malas foram feitas. Iria embora do Hotel, viveria com outra mulher.

Só então percebeu que havia mais alguém no quarto. Lembrou-se dela. Chegou na casa um dia, pedindo para lavar as roupas por um prato de comida. Deixou que ficasse por um ou dois dias. Dividia o quarto com a arrumadeira e a ajudava com as roupas. Não se lembrava de tê-la visto novamente depois disto. Agora as coisas faziam sentindo. Também o roubo das joias que o seguro pagou.

O coração antes oprimido e angustiado agora estava em paz. Suspirou aliviada... Abriu a bolsa, retirou um maço de notas e deixou sobre a mesa.

Olhou ainda uma vez para o jovem parado à sua frente, seu grande amor. As lágrimas agora corriam sem bloqueio. Chorava depois de tantos anos.

Deixou-os sem dizer palavra. A noite estava linda! Sentia-se serena e feliz!

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