Fim de caso em Paris.
Niaze Azevedo
Antes que lhe esfriasse de todo a alma.
Antes que se visse de novo completamente nua de sentimentos, precisava vê-lo. Marcou
o encontro e se esmerou na toalete.
Entregou-se a partir desse
momento às lembranças que lhe faziam doer o estômago. As lágrimas detidas,
como sempre.
Foram felizes por quase três anos em
Paris. Muito felizes, como negar? E desde que se conheceram até sua partida,
não houve sequer um dia, em que não dormissem abraçados. Suas noites eram sublimes.
Enveredou-se pelas vielas iluminadas da
cidade à procura do Hotel onde ele morava desde que a deixara. Conhecia o
local. Houve um dia em que se demorou na calçada esperando que ele saísse para segui-lo
e descobrir se havia outra mulher em sua vida. Ele não desceu. Voltou para casa
contente e resfriada.
Tinha uma teoria. Quando um homem
deixava uma mulher, havia outra a espera. Homem não conseguia viver sozinho. Não
conseguiu descobrir a outra. A dúvida a consumia.
Lembrou-se do dia em que chegara em
casa e encontrou o bilhete de despedida. Ele dizia que precisava sair para conhecer
um pouco a vida. Correu ao seu Ateliê, estava tão vazio, quanto sua vida antes
de sua chegada. Tudo voltaria a ser como antes. Sem sua companhia, seus abraços
fortes, as gargalhadas loucas e sua eterna juventude.
Chegou ao Hotel, sequer percebera o
trajeto. Ele a esperava. Suas roupas contrastavam com a higiene do local, estava
sujo e malcheiroso. As malas foram feitas. Iria embora do Hotel, viveria com
outra mulher.
Só então percebeu que havia mais alguém
no quarto. Lembrou-se dela. Chegou na casa um dia, pedindo para lavar as roupas
por um prato de comida. Deixou que ficasse por um ou dois dias. Dividia o quarto
com a arrumadeira e a ajudava com as roupas. Não se lembrava de tê-la visto
novamente depois disto. Agora as coisas faziam sentindo. Também o roubo das joias
que o seguro pagou.
O coração antes oprimido e angustiado
agora estava em paz. Suspirou aliviada... Abriu a bolsa, retirou um maço de
notas e deixou sobre a mesa.
Olhou ainda uma vez para o jovem parado
à sua frente, seu grande amor. As lágrimas agora corriam sem bloqueio. Chorava
depois de tantos anos.
Deixou-os sem dizer palavra. A noite
estava linda! Sentia-se serena e feliz!
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